Um amanhã regenerativo.
Por Talissa Monteiro – Jornalista e Ex Aluna IEPR
Dois mil e vinte foi o ano das incertezas, do fim da ilusão do controle, o ano em que todos nós perguntamos o que seria do mundo. Hoje, a sensação é que já passamos da metade da ponte e conseguimos vislumbrar algumas respostas, ainda que etéreas, nada a que consigamos nos agarrar. E que bom que é assim. Quando há o vazio deixado pelas antigas certezas, existe espaço para o novo, para a desconstrução seguida da reconstrução, para novos tempos e caminhos. E não é isso que queremos, não é disso que precisamos?
Este blog começa com a seguinte proposta: trazer reflexões que nos ajudem a construir um mundo melhor após o chacoalhar (necessário) de uma pandemia. Onde teríamos chegado se não tivéssemos passado por este momento, onde chegaremos se não aprendermos com ele? Essas são algumas das respostas que buscaremos juntos aqui. Não para definir soluções únicas, mas para ampliar nossas possibilidades. Além do coronavírus, outras tragédias nos cercam ou nos aguardam na próxima esquina: escassez de alimento, guerras, mudanças climáticas, desastres naturais e outras pandemias. É preciso tomar consciência disso e assumir nosso lugar para mudar tal cenário.
Diversos cientistas batem o martelo ao dizer que a pandemia do coronavírus foi causada pelo desequilíbrio que estamos impondo ao planeta. Outras virão. E, segundo o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) é bem possível que algum vírus com potencial pandêmico saia da Amazônia. Isso porque com a atividade humana intensa na floresta (em decorrência do desmatamento e invasão de terras) rompemos com a harmonia daquele ecossistema. Para o climatologista Carlos Nobre, a Amazônia não está longe de virar uma savana. Ela pode atingir o seu “ponto de não retorno” (quando não consegue mais se regenerar sozinha) por volta de 2030. A perda financeira mundial seria gigante, mas será mesmo que essa é a perda mais importante? Em “A vida não é útil”, o pensador indígena Ailton Krenak nos lembra “ninguém come dinheiro”. A vida por si só é o mais importante, mas sem água, comida e oxigênio nossa espécie não consegue sobreviver neste planeta. Portanto, não é a Terra que precisamos salvar. Ela continuará se regenerando sempre. O que tentamos salvar é a própria espécie humana.
Se este texto te deixou um pouco desanimado(a), se acalme! Tenho muita esperança de que teremos dias melhores, mas esse otimismo é baseado em ações. Cada escolha que faço na minha vida, reflito se ela estará ajudando a construir o mundo que quero ver. Falaremos, neste blog, sobre alternativas, caminhos, opções para vivermos com mais equilíbrio e construirmos uma cultura regenerativa. Mas antes, é importante que saibamos onde estamos, que tomemos consciência do momento presente.
Em todo esse processo, uma certeza nós podemos ter: a mudança começa na educação, a nossa e a de nossas crianças. É nas escolas, em casa e na nossa comunidade que plantaremos as sementes do amanhã. Mas antes de esperarmos algo dos nossos alunos/filhos/conhecidos, precisamos olhar para nós mesmos. Primeiro, porque somos exemplo. Depois, porque o amanhã se constrói hoje e colocar toda a responsabilidade para as gerações futuras é injusto e pode nos levar para um lugar que não queremos. Para a ecofilósofa Joanna Macy, o momento pede uma esperança ativa: “Esperança passiva é esperar que agentes externos façam o que desejamos. Esperança ativa é nos tornarmos participantes, sermos atuantes e promotores do que almejamos”.
Assim, o IEPR abre esse espaço para, semanalmente, olharmos para a realidade que estamos criando, recalcularmos a rota e “esperançarmos” uma forma diferente de viver. Vamos juntos?