Como o Novo Enem deve modificar os paradigmas e a estrutura do ensino básico?
Gestores de unidades de educação básica trabalham sob amplos desafios no que se refere às constantes mudanças estabelecidas por novas legislações e novos paradigmas pedagógicos e estruturais.
Entre esses desafios, talvez o maior seja pensar que nem toda mudança de concepção pedagógica (como é o caso do Novo Enem, que passa a ser construído a partir do Novo Ensino Médio) é profundamente debatida com profissionais da educação, estados, municípios e outras instâncias a ponto de preparar a escola para transformar sua prática a partir dessas modificações.
O que nos cabe, então, como educadores e gestores, é estudar as novas legislações e concepções teóricas, pedagógicas e políticas que estão por trás das implementações, de forma a adequar a práxis do ensino básico à realidade que os estudantes encontrarão pela frente.
O Novo Ensino Médio
O Novo Ensino Médio foi estabelecido pela Lei 13415, do ano de 2017, que prevê alterações importantes para instituições escolares e órgãos gestores da Educação.
Apesar de trazer uma rica modificação legal e de paradigmas para a educação básica, o foco principal do Novo Ensino Médio é a busca pela alteração do currículo único. Sobre esse aspecto, pesquisadores e legisladores concordam que as demandas da sociedade atual estão longe de ser atendidas por meio de um só currículo, padronizado para todos os estudantes, escolas e localidades.
Podemos apontar que o Novo Ensino Médio foi promulgado com base em quatro pontos principais. São eles:
- diversificação do currículo conforme escolha do estudante;
- articulação com o mundo do trabalho;
- formação integral do estudante;
- formação em tempo integral.
Novo Enem e desafios para a educação básica
As modificações legais, pedagógicas e educacionais trazidas pelo Novo Ensino Médio influenciam potencialmente o Exame Nacional do Ensino Médio, que, além de avaliar o Ensino Médio, possui a importantíssima função de garantir acesso à universidade.
Não é viável, portanto, que o Enem siga construído sob a forma curricular única e padronizada que se tinha anteriormente, porque isso limita as modificações a serem feitas no Ensino Médio. É nesse ponto que podemos afirmar que Enem e Novo Ensino Médio se influenciam mutuamente na prática escolar da atualidade.
A própria legislação que trata do Novo Ensino Médio previu essas alterações quando, na Lei 13415, deixou claro que o Enem deve considerar a BNCC ao ser elaborado. Também a Resolução 03 do Conselho Nacional de Educação de 2018 prevê que tanto o Enem quanto os vestibulares deverão ser formados por duas etapas.
O cronograma do governo federal para as mudanças no Enem prevê que ele seja modificado em etapas que se iniciaram no ano de 2021 e deverão ser concluídas no ano de 2024. O ano letivo de 2022, contudo, é o que deverá sofrer maiores modificações até a finalização do novo exame.
Os alunos que, atualmente cursam o Primeiro Ano do Ensino Médio serão os primeiros que farão a prova do Enem já modificada. Caberá às escolas, portanto, irem se adequando à medida em que novas diretrizes forem sendo divulgadas para a Rede de Educação Básica.
De forma resumida, o cronograma para o Novo Enem define os seguintes pontos:
- Em 2021, as matrizes de avaliação segundo as quatro áreas de conhecimento que já constam da prova atual deverão ser revistas e atualizadas para a primeira prova, a de conhecimentos comuns, segundo a BNCC.
- Ainda em 2021, aos itinerários formativos, que são as construções pedagógicas do Novo Ensino Médio por área de interesse, deverão ser introduzidas também em matrizes de avaliação.
- Em 2022 as matrizes de avaliação, tanto do conteúdo básico comum quanto dos itinerários, deverão ser validadas pedagogicamente, além de uma prova preliminar, que será construída em formato do Novo Enem. A publicação da portaria do Ministério da Educação sobre o Novo Enem também deverá ser feita neste ano.
- No ano de 2024 o Novo Exame Nacional do Ensino Médio, em consonância com o Novo Ensino Médio e com a BNCC, deverá ser aplicado em todo o território nacional.
Pensando no cronograma proposto e no que deverá ser modificado, podemos elencar alguns pontos de extrema importância para as escolas de ensino básico, já a partir de 2022, para que estudantes se preparem para as modificações no Exame.
Preparo dos estudantes para a primeira fase do Novo Enem
A ideia da maioria dos especialistas é que a fase 1 do Enem seja novamente parecida com as provas aplicadas até o ano de 2009, com foco maior em avaliar as competências e habilidades que agora estão na BNCC. A escola poderá retomar essas provas para pensar parte de sua grade curricular e realizar simulados com os estudantes que farão o Novo Enem, ou seja, quem, no ano de 2022, está no 1º ano do Ensino Médio.
Segunda fase do Enem – os itinerários formativos
Sobre os itinerários formativos que deverão constar nas matrizes de avaliação na Fase 2 do Enem, sabe-se que eles também são os guias das áreas de interesse e escolha dos estudantes no Novo Ensino Médio e ainda não estão totalmente implementados nas escolas brasileiras.
Esse é o maior desafio para as escolas de ensino básico e também a maior mudança que ocorrerá no Enem, já que os itinerários precisam considerar também a formação profissional dos estudantes.
Para se aprofundar na leitura sobre o assunto, leia também este texto do Blog Poliedro!
Estudiosos do Enem e pesquisadores da educação apontam que as áreas integradas deverão se aproximar das quatro seguintes:
- Estudantes que pretendem cursar Engenharias, Matemática, Física e outras carreiras ligadas às tecnologias, uma área que abarque as Ciências Exatas e Tecnologias.
- Estudantes que pretendem seguir a carreira acadêmica na área de Humanidades, em cursos como Pedagogia, Filosofia, Geografia, História, Literatura e Artes.
- Área ligada às Ciências Sociais e suas aplicações, como Economia, Sociologia, Administração Pública e de Empresas, Direito, Contabilidade.
- Ciências biológicas e Área da Saúde para estudantes que pretendem acessar o Ensino Superior em Biologia, Medicina, Enfermagem ou Meio Ambiente.
Provas diversificadas e digitais
Por último, existe uma grande possibilidade de que as provas passem a ser aplicadas em formato digital, por isso a escola poderá inserir avaliações nesse formato para que os estudantes se utilizem de tecnologias no processo de avaliação de forma rotineira.
A possibilidade de optar pela avaliação também é uma maneira eficaz para que a escola vá se adequando à nova realidade trazida pelo Novo Enem e pelo Novo Ensino Médio simultaneamente. é possível que o estudante faça uma prova de avaliação geral e outra escolhendo a área, já como se fosse os itinerários da fase B e pensando no curso que deseja fazer no Ensino Superior.
Abrir os canais de diálogo com toda a comunidade escolar será fundamental para as escolas, agora mais do que nunca. Conscientizar todos sobre as mudanças que serão implementadas, o que já está direcionado e o que ainda está para ser decidido, quais as possibilidades e os possíveis apontamentos são formas de confortar e deixar estudantes, pais e profissionais mais seguros de que a escola se preocupa com a qualidade do ensino oferecido!